Os media portugueses esqueceram-se depressa dos “Papéis do Panamá”, que há três semanas desapareceram sem deixar rasto
Aquele que aparenta ser o maior escândalo financeiro do ano teve direito a estar no top do Barómetro de Notícias durante semanas. Mas o caso “Papéis do Panamá”, depois de um crescendo de revelações, acusações e insinuações, evaporou-se dos media como se nunca tivesse existido.
O consórcio internacional de jornalistas de investigação (ICIJ) pegou nos 11,5 milhões de registos legais e financeiros obtidos à empresa panamiana Mossack Fonseca e foi divulgando transações, criação de empresas de fachada e nomes de pessoas envolvidas nesses negócios.
Mais do que os nomes apontados (entre os quais muitas figuras públicas ou empresários de todo o mundo, Portugal incluído) ou do que os crimes cometidos (ter uma offshore não é ilegal), o caso trouxe para a paisagem mediática questões éticas e legais.
Por um lado, não é crime, mas é claro que movimentar dinheiro para um paraíso fiscal tem benefícios pessoais e, portanto, penaliza o país de origem do dinheiro e os seus cidadãos. Por outro lado, os esquemas de empresas sem rosto facilita e possibilita todo o tipo de atividades ilegais, desde a fuga ao fisco ao branqueamento de capitais, passando pelo financiamento de regimes sob sanções internacionais ou de atividades terroristas.
Mas não deixa de ser estranho que, depois de tantas promessas e insinuações, de repente se tenha passado para um silêncio quase total, tanto dos media como das autoridades que têm a obrigação de combater as potenciais ilegalidades. A fonte esgotou-se? Os ricos e poderosos exerceram as pressões certas? Vamos esperar para ver o que acontece nos próximos tempos. Mas, para já, mesmo que tenhamos offshores, somos todos bons rapazes.
Fonte: BARÓMETRO DE NOTÍCIAS: desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo.