Além de contar com o esforço dos empresários para pressionar o Congresso, o governo planeja uma campanha publicitária para explicar as reformas estruturais à sociedade
Antes do embarque para Nova York na noite da segunda-feira 19, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fez questão de encaixar na sua agenda, em São Paulo, dois encontros com empresários. O objetivo era ressaltar a importância da aprovação de emendas constitucionais relacionadas ao ajuste fiscal. Pela manhã, o debate aconteceu na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). À tarde, o bate-papo foi num evento promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (LIDE). Com um discurso transparente sobre a gravidade da situação das contas públicas, Meirelles deixou claro que não há soluções milagrosas.
“Movimentos bruscos em macroeconomia, sabemos, não têm sustentabilidade”, afirmou o ministro, que recebeu o apoio do setor produtivo às reformas estruturais “O ajuste fiscal pelo lado da despesa é necessariamente gradual.” Mais do que aplausos, Meirelles quer a ajuda efetiva do empresariado para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos à inflação do ano anterior. Até agora, o texto patina na Câmara dos Deputados, onde deve ser votado após as eleições municipais. Apesar da pressão de parlamentares para alterar a PEC, o governo tem resistido aos pedidos para não comprometer a sua eficácia.
“Os líderes partidários da base terão de entrar em ação com metas de votos”, diz o consultor político Gaudêncio Torquato, um dos conselheiros do presidente Michel Temer. “E os empresários podem ajudar pressionando os políticos.” Se depender da Fiesp, que promove uma campanha contra o aumento de impostos, a pressão em Brasília será intensa. No encontro com Meirelles, o presidente da entidade, Paulo Skaf, ao lado de dois vice-presidentes, Benjamin Steinbruch e José Ricardo Roriz, reclamou dos juros altos e do câmbio valorizado, que retiram competitividade da indústria.
Na questão do teto de gastos, no entanto, houve convergência total com a equipe econômica. “Ou fazemos um ajuste fiscal para valer ou teremos mais uma década perdida”, afirma Roriz. “O governo pode contar com a Fiesp para pressionar o Congresso e explicar as reformas para a sociedade.” A “tropa de choque” da indústria de transformação mais numerosa é a do setor de bens de capital. São 270 deputados federais e 14 senadores que compõem a chamada Frente Parlamentar da Indústria de Máquinas e Equipamentos (FPMAQ). “Já fizemos reuniões com parlamentares e estamos todos alinhados com a aprovação da PEC dos gastos”, afirma José Velloso, presidente executivo da Abimaq, entidade que representa o setor.
“Já a reforma da previdência precisará de uma mobilização do governo para convencer as centrais sindicais.” Ciente do tamanho do desafio, Meirelles tem dito que o governo precisa “atacar um problema por vez”. Primeiro o teto dos gastos e, em seguida, as mudanças nas aposentadorias, que devem ficar para 2017. Para superar as pressões contrárias, o governo vai travar uma batalha de comunicação com todos os setores da sociedade. O presidente Temer busca um jornalista para ser seu porta-voz, cargo extinto durante a gestão Dilma Rousseff, com o objetivo de unificar os discursos no Palácio do Planalto.
Além disso, está em elaboração uma campanha publicitária para explicar à população a necessidade de se adotar medidas que aparentemente retiram direitos. A ofensiva de discursos inclui muitas reuniões no exterior para convencer os investidores internacionais de que o Brasil superou a crise política após o impeachment da ex-presidente Dilma. “O Brasil acaba de atravessar processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento”, disse Temer na terça-feira 20, na Assem-bleia Geral da ONU, em Nova York. “Tudo transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional.”
No dia seguinte, em almoço organizado pelo Conselho das Américas, o presidente falou a uma plateia de empresários e investidores sobre as oportunidades na infraestrutura. “Temos uma estabilidade política que também dá segurança jurídica”, disse Temer. “Nós temos alardeado que, lá no Brasil, o que for contratado será cumprido.” Em mais uma ofensiva para atrair capital privado para setores como logística, energia e saneamento, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, enalteceu, na quinta-feira 22, em seu discurso em evento de premiação AS MELHORES DA DINHEIRO, os benefícios que o setor privado gera ao aportar recursos em infraestrutura.
“Esses investimentos têm efeito multiplicador, pois, ao reduzirem custos e riscos das atividades produtivas, aumentam o retorno esperado dos outros investimentos na economia”, afirmou Goldfajn. Confiantes no êxito da equipe econômica, os empresários avaliam desengavetar projetos. “Estamos aguardando as sinalizações definitivas, que são a PEC dos gastos e a reforma da previdência”, diz Flávio Rocha, presidente das Lojas Riachuelo. “O Congresso não é tão ruim quanto a opinião pública imagina.” O ministro da Fazenda tem ressaltado que a recuperação da confiança de empresários e consumidores já é uma prova de que o “círculo vicioso” está dando lugar a um “círculo virtuoso”.
Neste contexto, ao desembarcar em Nova York, na terça-feira 20, Meirelles recebeu uma ótima notícia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que acabara de divulgar o Índice de Confiança do Empresário Industrial. O indicador subiu pelo quinto mês consecutivo. “A base da retomada do crescimento é a confiança e o ajuste fiscal faz parte disso”, diz Roberto Medeiros, CEO da Multiplus. O governo sabe que, para sustentar esse otimismo, será preciso juntar esforços.
“O mais importante agora é mostrar uma união entre o setor privado e o setor público”, diz Gilberto Xandó, CEO da Vigor. Percebendo a angústia dos empresários, Meirelles encerrou a sua palestra no evento do LIDE, com uma declaração que faz parte da batalha da comunicação: “Comparado com a ansiedade de todos nós, o ritmo da aprovação da emenda constitucional está devagar. Comparando-se com o passado, isto é, com o fato de que nunca houve uma alteração constitucional para controlar despesa pública, estamos numa velocidade extraordinária.”
Fonte: IstoÉ