Arte contemporânea como um caminho para compartilhar

Produções de 81 artistas de 33 países expõem trabalhos que apresentam, com espírito crítico, questões que vão desde o modelo capitalista de exploração da natureza aos discursos visuais urbanos sobre sexualidade, gênero, raça, classe social, imigrações e violência. Com o tema “Incertezas Vivas”, a 32ª. Bienal de São Paulo estará aberta ao público até 11 de dezembro. A proposta é lançar novos olhares sobre o mundo em ebulição e as incertezas decorrentes.

No texto de abertura do catálogo os curadores Jochen Volz, Gabi Ngcobo, Julia Reboucas, Lars Bang Larsen, Sofia Olascoag, registram que essa Bienal “expressa, nas diversas formas de arte, noções sobre o conceito que envolve o tema – Incerteza Viva. Parte do princípio que a arte se funde com a imaginação para vislumbrar novas narrativas para o passado e caminhos para o futuro”.

As questões do nosso tempo são cenário e conteúdo: aquecimento global, extinção das espécies, instabilidade econômica e política, migrações globais, xenofobias, distribuição de recursos naturais da Terra.

As obras apresentadas refletem um pensamento crítico frente aos espaços urbanos; levantam questões ligadas a ecologia, criticando modelo de desenvolvimento capitalista e sua relação com a natureza; apresentam as estruturas sociais, econômicas, ideológicas e culturais no contexto pós-independência de países africanos; expressam a linguagem de massa; ressaltam a violência existente nos grandes centros urbanos; constroem discursos visuais sobre as questões da sexualidade, gênero, raça, classe social, imigrações, violência, biodiversidade, desmatamento … Temas afetos ao mundo contemporâneo. Obras carregadas de significado que estimulam os nossos sentidos e sentimentos. Não copiam uma realidade dada, mas recriam a sua realização a partir de seus próprios meios.

O assunto me remete ao trabalho desenvolvido pela artista plástica Mônica Nador que realizou seguidos projetos intitulados Paredes Pinturas em contextos diversos. Em 1998, a convite da Universidade Solidária, pintou um coreto em praça pública, na cidade de Coração de Maria (BA), com a ajuda da comunidade. Em 1999, trabalhou numa casa de palafita no Amazonas  usando o motivo de uma casinha desenhada pela própria moradora. Pintou muros e fachadas na Vila Rhodia, bairro de Santana, em São José dos Campos, junto com os moradores, usando motivos retirados de riscos de bordados mineiros. Atualmente ela fixou-se no Jardim Luso, em São Paulo, onde trabalha com os moradores do bairro, no JAMAC (Jardim Miriam Arte Clube) buscando criar novas padronagens para as paredes e estampas para panos, camisetas, papeis. A artista crê na potência criativa da arte. Para ela, o exercício de fruição do belo pode ser por si só um elemento transformador.

Este é um dos exemplos que se agrega aos demais apresentados na 32a. Bienal onde a arte produzida no mundo contemporâneo não está limitada à obra em si: a pintura, a escultura, etc. Ela amplia as fronteiras da arte, mostrando que é melhor compartilhar tudo o que temos, nossos valores, nossa cultura, acreditando que o progresso não é sinônimo de evolução, bem como o futuro não significa a garantia de dias melhores.

O importante é dividir o sentir e partilhar os sonhos. Com o trabalho coletivo eles se tornarão realidade.

 

Autoria: texto de Giselle Frattini Vieira, graduada em Artes Plásticas pela UnB, pós-graduação em Marketing pela UFRJ. Atuou na coordenação de projetos culturais no Banco do Brasil e é consultora em projetos culturais. E-mail: gifrattini@gmail.com