Perfis automatizados, operados at do exterior, motivaram debates no Twitter em situaes de repercusso poltica brasileira desde as eleies de 2014, aponta estudo feito pela FGV (Fundao Getlio Vargas).
Em momentos como os debates presidenciais de 2014, manifestao pelo impeachment de Dilma Rousseff em maro de 2016 e a greve geral deste ano, apoiadores de um dos lados interagiram em cerca de 20% com “robs” na rede social –como so chamados esses perfis.
Os robs impactam nos assuntos discutidos na internet e, segundo a pesquisa, promovem “a desinformao com a propagao de notcias falsas e campanhas de poluio da rede”.
E estavam por todos os lados. Havia perfis que apoiaram Dilma Rousseff (PT) em 2014, assim como Acio Neves (PSDB) e Marina Silva (ex-PSB, hoje Rede).
Em 2016, eles estavam no lado contrrio e no favorvel ao impeachment. Nas eleies municipais de So Paulo, participaram de discusses a favor de Joo Doria (PSDB), Fernando Haddad (PT) e ainda de Celso Russomanno (PRB).
O estudo, feito pela Diretoria de Anlises de Polticas Pblicas (DAPP) da FGV, verificou no Twitter seis momentos-chave da poltica, entre o primeiro turno de 2014 e a votao da reforma trabalhista pelo Senado, em julho.
Os pesquisadores, no entanto, ressaltam que as contas na rede social no so necessariamente operadas por polticos ou pessoas que estejam nos seus entornos.
“O estudo tira do campo da hiptese a informao de que todos usam robs –esquerda, direita e centro– para propagar suas ideias”, afirma Marco Aurlio Ruediger, diretor da DAPP.
Segundo ele, a anlise foi feita apenas no Twitter porque permite comparao internacional –nos EUA, Donald Trump usa a ferramenta para se manifestar ao pblico e imprensa– e uma plataforma amplamente usada por polticos e partidos.
O DAPP conclui que “o crescimento da ao concertada de robs representa uma ameaa real para o debate pblico, representando riscos, no limite, democracia”.
FAKE NEWS
Depois de filtrar os dados, os pesquisadores analisaram 2.153 contas suspeitas de serem robs nos casos escolhidos. Nem todas eram completamente automatizadas (algumas publicavam tanto por meio de robs como pelo prprio usurio).
A avaliao no levou em conta se os contedos que espalhavam eram “fake news” ou no, mas aponta que esse um dos propsitos dos robs, assim como o de promover ataques virtuais.
“A eleio do ano que vem que vai ser extremamente importante para o pas e, com a importncia que as redes sociais vo ter nela, impossvel imaginar que haver menos robs do que j houve”, afirma Ruediger. Ele faz previses catastrficas: “Estamos identificando um ‘tsunami’ [de robs] chegando. Temos que nos preparar para isso, com centros de pesquisas se aparelhando e rgos pblicos competentes para monitorar esse fato.”
Em 2014, um levantamento feito a pedido da Folha ao Laboratrio de Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Esprito Santo j apontava que as conversas no Twitter e Facebook no debate presidencial do segundo turno, na Rede Globo, foram fortemente influenciadas pela presena de robs.
Em 2016, a mesma entidade apontou ataques virtuais de robs contra o candidato Marcelo Freixo (PSOL) no Rio.
Fonte: Folha de S.Paulo